Reencontrei-te no meio de tantos outros… Já não és só meu, és do mundo. Mas, para ele, levas um pouco de mim. Então lembrei-me de quando te criei, de rompante, por impulso, num acto de paixão. Escrevi desalmadamente, como se não houvesse amanhã. As palavras jorravam nem sei bem de onde, provavelmente de um universo criativo mais amplo, que a todos pertence, mas que nem sempre se consegue lá chegar. Estive lá num lapso do tempo, que abençoada fui!
Depois da fase da paixão, veio a do amor. Também tive sorte, nem todas as paixões se transmutam, se elevam. Aí, cuidei de cada pedacinho da história, como quem cuida de alguém que ama. Vi, revi, acompanhei, acrescentei, pensei, sonhei e projectei um final feliz. Tentei perceber se tudo fazia sentido ou se não fazia mas mesmo assim tinha de lá estar. Livrei-me do medo da crítica e da exposição, fechei mais um ciclo.
Desse amor nasceste tu. Já não és meu, és como um filho no qual se deposita tudo o que se tem de melhor e que segue o seu caminho. Fiquei, fico e ficarei de longe, na retaguarda, a observar o teu caminho.
É bom encontrar-te, de vez em quando e sem contar, como quando se reencontra um amigo que já não se vê há muito tempo. Mas, que por ser tão querido, faz parte de ti, e tu, eternamente, dele.
Por vezes, pergunto-me: que emoções despertarão em quem te cruzas? Gargalhadas? Lágrimas? Alegria? Melancolia? Reflexão? Indiferença? Esperança? Será que alguém ficou mais feliz por se ter cruzado contigo, por existires? Será que fizeste a diferença na vida de alguém?
Está feito, meu querido. O mundo é teu. Da minha parte ficarei sempre feliz a cada reencontro e, se possível, com arte. Pois, como dizia Vinícius de Moraes, “a vida é a arte do encontro”. Obrigada Bom dia Sol!
Obra: “Bom dia Sol! – Em busca do suryanamaskar” | Chiado Editora | Autora: Sara Braga | Ilustradora: Nettie Burnett