
Sara Braga
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A matemática das palavras
Sempre gostei das manhãs, em especial da manhã do dia 1. O um é pleno, parece indivisível. O 31 ficou para trás, já não nos pertence. É um somatório de várias coisas. Por outro lado, no 1, tal como nas manhãs, vislumbramos futuro, respiramos melhor. Chuvosas ou solarengas, são sempre o início de algo, são serenas, um manancial de possibilidades. O que teremos feito com o nosso 1 quando chegarmos novamente ao 31? Será que nesta embrulhada da vida vamos só somar “trinta-e-uns”? Voltemos ao 1, porque é tudo que temos agora. Procuremos, pelo menos, seguir os seus passos. Qualquer número multiplicado por 1 volta sempre a esse número. Voltemos sempre a casa. Uma casa onde somos mais plenos, indivisíveis e não um somatório de nadas. Feliz ano!
Amizade
Há uns dias observava uma conversa de amigos. Deitavam conversa fora, falavam de tudo e de nada, de temas de interesse comum, outros nem tanto. Há pessoas com quem nos alinhamos muito para além da conversa. São aquelas pessoas que abrandam a nossa respiração, que desembaciam as nossas vidraças e nem sequer o sabem. Deixamo-nos levar pelas suas palavras, pelo que achamos ser uma troca intelectual, mesmo até quando a conversa não tem tanto interesse quanto isso. Temos curiosidade pelos seus interesses e vivências muitas vezes tão distintos dos nossos. Quando essas conversas acabam levamos para casa uma estranha e até inexplicável sensação. Talvez devido a um olhar, sobre um transeunte, um comentário inocente, mas assertivo sobre uma situação ou um desabafo tímido e curto sobre uma situação mais pessoal. A conversa terminou. Observei, enquanto se afastavam. Não sabiam, mas havia algo de diferente na forma como caminhavam. Mais leves, com mais silêncios. Não sei quando se iriam encontrar novamente. Sei que cada um fez diferença na vida do outro. Sei que no fim daquele dia ou passado uma semana tomariam consciência disso. Há sintonias que transportam palavras, mas vivem muito para além destas. Devíamos ter uma antena especial para não as deixar escapar pelos dedos da nossa vida.
Aprendemos mesmo a ver o mundo com outros olhos?
Um dia, no futuro, alguém contará a seguinte história…
Chamada União.
Que no ano de 2020
Quiseram tirar-nos os horizontes mas nós deixamos as janelas abertas
Quiseram tirar-nos o chão
Mas nós mudamos a perspectiva
Quiseram tirar-nos a música
Mas nós reinventamo-nos com arte
Quiseram que baixássemos os braços e desistíssemos
Mas nós elevamo-nos ainda mais alto
Quiseram tirar-nos a dança
Mas esqueceram-se que há muitas formas de dançar
Quiseram tirar-nos o mundo
Mas não conseguiram tirar o mundo de nós
Não nos deixaram navegar para fora
Mas fizemos longas viagens internas
Tivemos aniversários diferentes
Mas não menos divertidos
Aprendemos mesmo a ver o mundo com outros olhos?
E que tudo o que é verdadeiramente importante…
É simples?
A matemática dos dias
- Mãe, hoje é mais um dia ou menos um dia?
Sabia que a conversa ia ser longa. Recostei-me e cocei a cabeça na tentativa de ganhar tempo para pensar.
- Tenho mais um dia para brincar. O dia é enooooorme!! E tu, Mãe?
Enquanto olhava aqueles olhinhos brilhantes pensei que tinha mais um dia para me queixar, mais um dia para viver virtualmente, o que significava mais um dia para “não viver” ou menos um dia para viver.
- Vamos brincar ao faz de conta, Mãe? Eu posso ser o que eu quiser!
O que é feito da nossa coragem quando demos os primeiros passos, da nossa capacidade de sonhar e executar? Onde anda a nossa certeza de que tudo era possível? Que tudo estava ao nosso alcance? A sensação de aplaudir e ser aplaudido pelas nossas conquistas da primeira infância?
- Desta vez vou salvar o mundo, Mãe!
Qual é o super herói que queremos vestir? O super herói zangado? O super herói resignado? O preguiçoso? Qual é o anão da Branca de Neve que queremos “ser”?
Depois e finalmente veio a pergunta dolorosa.
- Vais morrer, Mãe? Eu quero que tu vivas para sempre.
Acho que nos esquecemos que sim, vamos morrer. VAMOS MORRER, PORRA!!! Esquecemo-nos que, no final do dia de hoje, teremos menos um dia para dizer que amamos a quem amamos, de mostrar aos outros o quanto nos são queridos. Mesmo que isso implique lutar contra uma parte de nós que não o quer fazer. Mesmo que isso implique sair daquela estúpida linha de conforto, daquele mundinho miserável que construímos como um castelo na areia e que se irá desfazer na primeira rajada de vento, no primeiro encontrão da vida. Daquele medo que nos voltem a magoar, que alguém nos ridicularize. O medo infantil de arranhar o joelho transposto para os 30, 40, 50 anos. Caímos de bicicleta, arranhamos o joelho e voltamos a andar, não foi? Vamos deixar de viver? Não! Não tenho medo de morrer, caramba! Tenho medo de morrer sem viver!
Posto isto… Feliz dia para todas as Mães (e Pais)! Porque sem eles não existiríamos e não existiriam conversas destas.
Amo-te
Nunca ninguém te disse que poderia não ser fácil. Nunca ninguém te avisou que o outro era também um ser imperfeito e inacabado. Semearam em ti a ideia de uma princesa ou de um príncipe encantado. Não te explicaram que o coração por vezes enferruja, que há muitas pedras no caminho. Não te explicaram que são dois corações, e não um, que terão de dialogar. Fizeram-te acreditar que o amor tudo pode, tudo alcança. E pode. E alcança. Mas na perfeição das imperfeições. Nunca te disseram que tens que te construir, destruir e reconstruir várias vezes ao longo da vida. Que sem um limpa metais potente não consegues espelhar o melhor do outro ou projetar o melhor de ti. Que há idade para tudo e não há idade para nada. Porque tudo é um instante. E não há idade para ser feliz. Condicionaram-te para um protótipo, fizeram-te acreditar que esse protótipo é que era eficaz. Como se fosse uma receita milagrosa. Esqueceram-se que somos inacabados. Que nos podemos construir ou reconstruir de várias formas. Que a criação é uma obra de arte. Quase uma exposição coletiva de vários artistas onde, um deles, és tu.
Pequenas grandes conquistas
Todos os anos cada um de nós tem as suas pequenas conquistas. Da lua ao coração de alguém, de um beijo a um abraço. Ultrapassar um medo, conquistar mais uma meta, dar o primeiro passo. Ou o segundo, ou o terceiro. Ver um filho crescer e ser feliz. Pronunciar amo-te. Fazer um pino, juntar as mãos atrás das costas. Conquistar a vida. Não deixar que o fio se desenrole tão rápido. As minhas conquistas nunca serão as tuas, as tuas serão claramente diferentes das minhas. Cada um de nós tem as suas pequenas ou grandes conquistas. Subir uma montanha, aprender a tocar um instrumento, gerir o medo, perdoar. Ir fundo ao desconhecido que somos. Encontrar o que não queremos e não gostamos. Aceitar. Perdoar. Crescer. Perdoar os outros e levar esse perdão de volta. Cada um de nós tem as suas grandes ou pequenas conquistas que guarda na sua sala de troféus. Superar uma perda, uma doença, fazer uma maratona, ou uma mini, ou simplesmente não fazer, porque saber respeitar os limites é também uma enorme conquista. Conquistar, deixar-se conquistar. Por medo da derrota ou por ambição do pódio damos tudo, outras vezes nada… E sobrevivemos. Cada um de nós tem as suas próprias conquistas, secretas, imperfeitas, belas, por vezes eternamente inacabadas mas que, mesmo assim, não deixam de ser conquistas. Algumas vezes tão grandes e tão longínquas para que assim tenhamos razão para dizer: era muito difícil, não era possível. Diante da morte somos todos iguais. Aquilo que plantamos antes dela difere. Uns plantam árvores, outros flores. A natureza precisa de todos, ela não faz distinção, não congratula ninguém. Einstein dizia que só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre. A escolha é nossa. Mas é preciso vivê-la. Cada novo ano é mais uma oportunidade para o fazer. Feliz ano, mês, dia, hora, minuto!
Ser grande é também tentar “ser pequenino” outra vez.
Ser grande é também tentar “ser pequenino” outra vez.
Um dia fomos assim… Queríamos ser grandes para fazer aquilo que nos desse na telha, para ficar acordados até mais tarde, para não ir para a escola, para não ter que levar com ralhetes dos pais. Há “uns dias” brincávamos sem tempo, sonhávamos e imaginávamos que tudo era possível, tínhamos tempo para tudo e para nada. Um dia fomos assim…
Somos grandes. Eventualmente percebemos que não fazemos o que queremos, como fazíamos quando éramos “assim” mais pequenos. Queremos acordar mais tarde, dormir descansados e, alguns de nós, davam tudo para levar ralhetes dos pais. Gostaríamos de ter tempo para brincar e, muitas vezes, já não nos lembramos como sonhar ou imaginar.
Ser grande é também tentar ser pequenino outra vez. Com um mapa alargado. Com ferramentas extra. Ganhar anos de vida é maravilhoso. Se soubermos acumular o que é imprescindível (que é sempre muito simples) e libertarmo-nos do que não faz falta. E é tanta coisa… Envelhecer com graciosidade significa ser flexível, permitir e usufruir dessa constante e maravilhosa mudança que é a Vida. Obrigada a todos por me acompanharem nesta mudança e neste ano!
O apego
Iemanjá levou-me uma pérola. Dizem que ela é vaidosa. Procurei no meio da areia mas o mar já a tinha levado para longe. Iemanjá gosta de jóias, disse-me uma vez um amigo, é por isso que ela te leva os brincos. Tenho uma caixa de brincos solitários. Sim, Iemanjá hoje levou-me uma pérola. Quem me manda levar pérolas para o mar? Mas a avidez de lá entrar neste santo dia de Outono foi mais forte. Não acredito nem desacredito em Iemanjá. Respeito todas as crenças. Simplesmente gosto desta metáfora do arquétipo feminino do mar. Então pensei no apego. Na quantidade de coisas que nos esquecemos de “tirar” ao longo da vida. Aquelas que achamos que nos vão fazer falta mais tarde, que nos trazem boas memórias ou que nos fizeram um dia sorrir. Coisas, lugares, pessoas… Aquelas que insistimos em carregar na nossa velha caixa de jóias que, de tão cheia que está, não deixa lá entrar mais nada. Ganha até uma identidade própria. E nós cobardemente repetimos a proeza, como quando nos sentamos em cima de uma velha mala para a fechar. Mas, Iemanjá levou-me uma pérola. Deixou-me um espaço na orelha. Talvez eu possa colocar lá algo novo. A Natureza é sábia. Aquilo que não temos coragem de deixar para trás irá ser deixado de uma forma ou de outra. Obrigada “Rainha do Mar”.
Já perguntaste a ti próprio para onde foi aquele amor?
Já perguntaste a ti próprio para onde foi aquele amor?
Escapou? Fugiu? Transformou-se? Morreu? Levou-o um pássaro para alimentar as crias? Transmutou-o o poeta em criatividade? Levou-o a brisa para cantarolar nos vales?
Brilha na gargalhada de uma criança? Eu não sei… Gosto de pensar assim: a lua empresta-o aos amantes, com ele o sol aquece os tristonhos. Os rios correm mais vivos de felicidade e salpicam as margens de forma atrevida. Amores assim não morrem, transformam-se, reinventam-se, transmutam-se, renascem, reinventam-se no coração de outros.
Feliz Aniversário, Gilberto Gil!
26 de Junho