A matemática dos dias
- Mãe, hoje é mais um dia ou menos um dia?
Sabia que a conversa ia ser longa. Recostei-me e cocei a cabeça na tentativa de ganhar tempo para pensar.
- Tenho mais um dia para brincar. O dia é enooooorme!! E tu, Mãe?
Enquanto olhava aqueles olhinhos brilhantes pensei que tinha mais um dia para me queixar, mais um dia para viver virtualmente, o que significava mais um dia para “não viver” ou menos um dia para viver.
- Vamos brincar ao faz de conta, Mãe? Eu posso ser o que eu quiser!
O que é feito da nossa coragem quando demos os primeiros passos, da nossa capacidade de sonhar e executar? Onde anda a nossa certeza de que tudo era possível? Que tudo estava ao nosso alcance? A sensação de aplaudir e ser aplaudido pelas nossas conquistas da primeira infância?
- Desta vez vou salvar o mundo, Mãe!
Qual é o super herói que queremos vestir? O super herói zangado? O super herói resignado? O preguiçoso? Qual é o anão da Branca de Neve que queremos “ser”?
Depois e finalmente veio a pergunta dolorosa.
- Vais morrer, Mãe? Eu quero que tu vivas para sempre.
Acho que nos esquecemos que sim, vamos morrer. VAMOS MORRER, PORRA!!! Esquecemo-nos que, no final do dia de hoje, teremos menos um dia para dizer que amamos a quem amamos, de mostrar aos outros o quanto nos são queridos. Mesmo que isso implique lutar contra uma parte de nós que não o quer fazer. Mesmo que isso implique sair daquela estúpida linha de conforto, daquele mundinho miserável que construímos como um castelo na areia e que se irá desfazer na primeira rajada de vento, no primeiro encontrão da vida. Daquele medo que nos voltem a magoar, que alguém nos ridicularize. O medo infantil de arranhar o joelho transposto para os 30, 40, 50 anos. Caímos de bicicleta, arranhamos o joelho e voltamos a andar, não foi? Vamos deixar de viver? Não! Não tenho medo de morrer, caramba! Tenho medo de morrer sem viver!
Posto isto… Feliz dia para todas as Mães (e Pais)! Porque sem eles não existiríamos e não existiriam conversas destas.